Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Shutterstock
Vaca-loura é, nada mais, nada menos, que o maior escaravelho da Europa. É uma espécie protegida a nível europeu, em vias de extinção em alguns países, desaparecida noutros. E de onde lhe vem o nome? Tudo indica que o batismo esteja relacionado com a aparência deste bicho invertebrado. Vaca por causa das mandíbulas bastante desenvolvidas que parecem cornos. Loura porque tem uma fila de pelos louros a separar os segmentos do corpo. Também é conhecida por cabra-loura, carocha ou abadejo, dependendo do local do país.
A verdade é que esta espécie tem o seu papel na natureza, é útil para a humanidade, e Portugal tem em curso um projeto para tentar perceber onde andam estes escaravelhos e em que estado vivem. O projeto chama-se precisamente Vacaloura.pt, tem um site, e apela à participação de todos interessados em tirarem fotografias ou acompanharem um exemplar desta espécie num percurso de 500 metros durante os meses de junho e julho.
A vaca-loura tem várias dimensões. O macho tem mandíbulas em forma de pinça para combater outros machos e pode medir cerca de oito centímetros. A fêmea é mais pequena, pode atingir os 4,1 centímetros, é brilhante, tem cabeça e tórax negros e pinças acastanhadas.
Basta ir ao site para perceber o que se pode fazer para ajudar a compilar e organizar informações sobre este escaravelho, num projeto que envolve 13 países da Rede Europeia de Monitorização da Vaca-Loura. Por cá, o projeto é coordenado pela Associação Bioliving, em parceria com a Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, a Sociedade Portuguesa de Entomologia, e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
A vaca-loura tem várias dimensões. O macho tem mandíbulas em forma de pinça para combater outros machos e pode medir cerca de oito centímetros. A fêmea é mais pequena, pode atingir os 4,1 centímetros, é brilhante, tem cabeça e tórax negros e pinças acastanhadas. Moram normalmente nos ramos altos das árvores, são cobiçados por predadores com asas porque têm um elevado valor nutritivo, alimentam-se de madeira morta em decomposição, de árvores de folha caduca, como carvalhos ou castanheiros, e mostram-se mais nos meses de maior calor.
É uma questão de sustentabilidade saber mais sobre esta espécie. «A conservação da vaca-loura e das outras espécies que ajudam na decomposição de madeira morta é importante para o Homem, pois se não houver reciclagem de nutrientes nos solos, estes acabam por empobrecer e as gerações vindouras não terão os recursos que nós temos. É uma questão de sustentabilidade», diz à NM João Gonçalo Soutinho, coordenador do projeto, membro fundador da Bioliving e investigador da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. E todos podem participar neste projeto de cidadania científica.
A natureza agradece a existência da vaca-loura e, dentro da sua categoria, representa cerca de 30 por cento das espécies que existem nas florestas do planeta.
«O projeto tem duas vertentes: os registos esporádicos e adoção de um percurso para monitorizar a espécie. A primeira pode ser feita por qualquer pessoa e consiste apenas no envio de uma foto e informações sobre avistamentos esporádicos desta espécie. A segunda vertente também pode ser feita por qualquer pessoa, mas já implica um pouco mais de esforço. A ideia é que se alguém conhecer um local onde seja facilmente encontrada a espécie que adote um percurso e o repita todas as semanas durante junho e julho ao anoitecer.» Por cá, a vaca-loura tem sido vista sobretudo na região norte e centro litoral, precisamente onde está a sua espécie de árvore preferida, ou seja, o carvalho-alvarinho.
A natureza agradece a sua existência e, dentro da sua categoria, representa cerca de 30% das espécies que existem nas florestas do planeta. «Estas espécies diferenciam-se das outras pois têm uma dependência por madeira morta durante o seu ciclo de vida. Podem alimentar-se dela, como é o caso da vaca-loura, ou apenas usá-la como abrigo – como fazem várias corujas, por exemplo», revela João Gonçalo Soutinho. «A vaca-loura acaba assim por ser uma espécie importante para a natureza pois ajuda na decomposição de madeira morta, devolvendo ao solo uma enorme quantidade de nutrientes que se tornam disponíveis para as próximas gerações de plantas», sublinha.
A vaca-loura é uma espécie em vias de extinção. Portugal tem esses escaravelhos, mas ainda não existe informação suficiente para saber o seu estado de conservação.
Há também uma componente de educação ambiental neste projeto ao disseminar informação e sensibilizar para «a importância da madeira morta nos ecossistemas florestais, da biodiversidade associada a estes habitats e de como todos juntos podemos ajudar a conservar estes ecossistemas.» E não se cruzam os braços. Os responsáveis pelo projeto andam a promover palestras, passeios interpretativos, a construir abrigos para esta espécie, e estão recetivos a convites para várias atividades.
A vaca-loura é uma espécie em vias de extinção e que já não existe na Dinamarca, no Luxemburgo e na Letónia, por exemplo. Portugal tem esses escaravelhos, mas ainda não existe informação suficiente para saber o seu estado de conservação. Em 2016, no primeiro ano do projeto, foram reunidos 552 avistamentos de lucanídeos em Portugal por parte de 485 pessoas. Desses registos, 470 foram relativos a vacas-louras, o que permitiu duplicar a área de distribuição conhecida desta espécie no território nacional.